A ciência oculta pertence ao Diabo.
(Do Livro IV de Cornelius Agrippa)
Numa noite de inverno, em que eu relia
Fólios poentos, velhos alfarrábios,
Que tratam de Cabala e de Magia,
- Ciências ocultas dos antigos sábios,
Vi de repente uma figura esguia,
Olhos de fogo, chamejantes lábios,
Que me disse com laivos de ironia,
Sobraçando papiros e astrolábios:
"Se queres penetrar no mundo excelso
Dos arcanos, empunha firmemente
A espada fulgural de Paracelso.
Pois que num vivo duelo, de improviso,
Hás de partir o gládio refulgente
Do Anjo que te expulsou do Paraíso."
II
E perguntei-lhe: "O Pomo da Verdade
Existe acaso na árvore da Ciência,
Onde tentaste o Pai da Humanidade,
Desatando-lhe as asas da Consciência?
Não és acaso o Deus da Falsidade,
Que no trono da Humana Inteligência
Queres reinar, impondo-lhe a maldade,
Em trôco de uma túrbida existência?"
"Como te enganas", exclamou cerrando
Os punhos para o céu o Rebelado;
"Como te enganas, filho miserando
Da raça eterna de Kain maldito!
Eu tenho para o céu que está fechado
A chave dos Arcanos do Infinto!"