31 July 2007

Canção do amor sereno


"Vem sem receio: eu te recebo
Como um dom dos deuses do deserto
Que decretaram minha trégua , e permitiram
Que o mel de teus olhos me invadisse.

Quero que o meu amor te faça livre,
Que meus dedos não te prendam
Mas contornem teu raro perfil
Como lábios tocam um anel sagrado.

Quero que o meu amor te seja enfeite
E conforto, porto de partida para a fundação
Do teu reino, em que a sombra
Seja abrigo e ilha.

Quero que o meu amor te seja leve
Como se dançasse numa praia uma menina. "

Lya Luft

28 July 2007

Dá-me a tua mão


Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.
De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.

Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam

existe um intervalo de espaço,

existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.

Clarice Lispector


O Vôo da Borboleta



Hoje eu me encontrei.
Olhei pra mim e não te vi.
Você não estava mais em mim.

Sinto que é hora de voar...
como uma borboleta,
eu estou me desfazendo
de um casulo que me prendeu
por um longo tempo...

Um casulo de sonhos
que nunca se realizaram...
de longas esperas...
por momentos que não vieram...
de desejos contidos...
por um amor que nunca existiu...

Estou em metamorfose...
mudanças de sentimento...
metamorfose da alma...
e do coração.

Me preparo para voar...
me vejo ganhar asas...
me despedindo de você...
me despedindo da saudade...
me despedindo do passado...
me despedindo das lembranças...
e de tudo que senti.

Agora o casulo é seu...
deixo para você todas as lembranças
da mulher que eu fui.

Deixo para você a saudade dos momentos...
a espera pelo que não veio...
e o sonho não realizado...
é tudo seu...

Fique com todas as lembranças
da mulher que tanto te amou...
que te desejou com a força da alma...
e que foi tua, mesmo sem te ter...

Fique com tudo,
pois não há mais lugar
para isso dentro de mim...
mudei...me transformei...

Metamorfose da alma...
estou me libertando...
me sinto pronta para voar...
agora estou livre...
livre de tudo que me prendia ao passado...

Uma nova mulher
surgindo dentro de mim...
está sorrindo... está em paz.... está Feliz !

Eu olho para ela e vejo que sou eu!

Sou eu como antes...
Sou eu voltando...
Sou eu mesma...
Sou eu...
de volta pra mim...


LYA LUFT

27 July 2007



"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

22 July 2007

SEJA



Simplesmente seja, o que quer que você seja -

bom, mal, seja o que for.

Abandone todo o julgamento.

Ame-se e desfrute a sua vida.


osho

07 July 2007

TOMA-ME

Toma-me.
A tua boca de linho sobre a minha boca Austera.
Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.
Tempo do corpo este tempo. Da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.
Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu delinqüescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa

De púrpura. De prata. De delicadeza.



HILDA HILST

Mistério



Há vozes dentro da noite que clamam por mim,
Há vozes nas fontes que gritam meu nome.
Minha alma distende seus ouvidos
E minha memória desce aos abismos escuros
Procurando quem chama.
Há vozes que correm nos ventos clamando por
[ mim.
Há vozes debaixo das pedras que gemem meu
[ nome
E eu olho para as árvores tranqüilas
E para as montanhas impassíveis
Procurando quem chama.
Há vozes na boca das rosas cantando meu nome
E as ondas batem nas praias
Deixando exaustas um grito por mim
E meus olhos caem na lembrança do paraíso
Para saber quem chama.
Há vozes nos corpos sem vida,
Há vozes no meu caminhar,
Há vozes no sono de meus filhos
E meu pensamento como um relâmpago risca
O limite da minha existência
Na ânsia de saber quem grita.

ADALGISA NERY

03 July 2007



Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.

Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...

— Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.

Que venha a manhã,
Com brasas de satã,
O dever
É vosso ardor.

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

RIMBAUD

02 July 2007



"Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar."



CLARICE LISPECTOR

01 July 2007




"
Se você se tornar desapegado, você será capaz de ver como as pessoas estão apegadas a coisas triviais, e quanto elas estão sofrendo por isso. E você rirá de si mesmo, porque você também estava no mesmo barco antes. O desapego é certamente a essência do caminho." OSHO

LUA



Louca
Traçou de novo as curvas do caminho
Lançando fora as pedras de um destino
Que sempre carregou sem reclamar

Livre
Abriu-se toda em todas as mudanças
Deixou voar inúmeras lembranças
Dizendo estar feliz de tanto amar

Dizia
Que se chamava Lua e era fria
Que loucos e poetas sempre vinham
Beber em sua luz suas manias
Nunca nenhum tocou seu manto de amargura
Nem pode perceber como era pura
Imenso mar que se julgava Lua

Paulinho da Viola