29 September 2007

Ao nosso reencontro...

Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos,
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.
Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.
Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.
Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.
Eu te amo
Desde a criação das águas,
desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.
Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.


ADALGISA NERY

20 September 2007

CANTIGA DE MALAZARTE


Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo,
ando debaixo da pele e sacudo os sonhos.
Não desprezo nada que tenha visto,
todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola.
Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos,
destelho as casas penduradas na terra,
tiro o cheiro dos corpos das meninas sonhando.
Desloco as consciências,
a rua estala com os meus passos,
e ando nos quatro cantos da vida.
Consolo o herói vagabundo, glorifico o soldado vencido,
não posso amar ninguém porque sou o amor,
tenho me surpreendido a cumprimentar os gatos
e a pedir desculpas ao mendigo.
Sou o espírito que assiste à Criação
e que bole em todas as almas que encontra.
Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo
nada me fixa nos caminhos do mundo.

MURILO MENDES

15 September 2007


"Minha sugestão é de que você nunca perca uma oportunidade que possa lhe trazer algo de novo. Nunca se atenha ao passado e permaneça aberto, experimentando... Sempre pronto para trilhar um caminho que você nunca percorreu. Quem sabe? Mesmo que isso se mostre inútil, terá sido uma experiência."

OSHO

14 September 2007

Primavera...



"A Primavera chegará,
mesmo que ninguém
mais saiba seu nome,
nem acredite no calendário,
nem possua jardim para recebê-la.
A inclinação do sol marcando
outras sombras;
e os habitantes da mata, essas criaturas naturais
que ainda circulam pelo ar e pelo chão,
começam a preparar sua vida para a primavera
que chega."
(Cecília Meireles)

10 September 2007

estranha



"Jamais terei de me recordar ou de me repetir. Sou uma estranha. Posso tomar meu rumo: fazer experiências do meu jeito com minha imaginação. Que ladre a matilha, mas jamais me pegará. E mesmo que a matilha - críticos, amigos, inimigos - não me dê atenção ou zombe de mim, ainda assim sou livre..."

(Virginia Woolf)

08 September 2007



"O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...


Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914

04 September 2007

Escolha


Apesar do medo
escolho a ousadia.
Ao conforto das algemas, prefiro
a dura liberdade.
Vôo com meu par de asas tortas,
sem o tédio da comprovação.

Opto pela loucura, como um grão
de realidade:
meu ímpeto explode o ponto,
arqueia a linha, traça contornos
para os romper.

Desculpem, mas devo dizer:
eu
quero o delírio.

(Lya Luft - Para não dizer adeus)


De ontem em diante...



"De ontem em diante serei o que sou
no instante agora

Onde ontem, hoje e amanhã são a mesma coisa

Sem a idéia ilusória de que o dia, a noite e a
madrugada são coisas distintas..."

(Fernando Anitelli - Teatro Mágico)

02 September 2007


"Ele falava tão gente com a planta, velho Ruiska? Falava com a montanha, com a terra, nem imaginas o que ele falava com a terra, ele falava: eu te amo de um jeito que ninguém sabe ao menos o trejeito, eu te amo inteira com a tua escuridão, o teu vermelho, o teu diamante, teus amarelos, teu vermelho-cristal, teu vermelho-fundo, teu, tua. Depois ele arranhava a terra, se lavava de terra, depois me chamava: Ruiska! Ruiska menino! Eu saía e entrava, ele dizia de um jeito santo: come terra, filho Ruiska, esfrega a terra no dente, bobalhão, cheira essa que vai te comer, essa linda vermelha, essa que é mais você do que você, essa que é mais eu do que todos os meus cantares, meus esgares, meus. (...)"

Hilda Hilst ( Fluxo-Poema)